sábado, 27 de agosto de 2011

Política Internacional: sem amigos, apenas interesses.

Por Luiz Eduardo Silva Pareira

Muitas pessoas, ao se depararem com manifestações oficiais de governos, atos de Estados; ficam perplexas - às vezes com toda razão - de como um país, num determinado momento, é "amigo" de outro país; e, passados alguns anos, aqueles mesmos países se tornam inimigos a ponto de haver ataques militares de um contra o outro.

Um exemplo aconteceu recentemente: o Afeganistão. Em 1979, em plena Guerra Fria e na época de maior poder militar do bloco comunista europeu, a União das Repúblicas Socialistas Soviética - URSS (relatório da CIA sobre a URSS) - invadiu o Afeganistão, para apoiar a tomada de poder do Partido Comunista afegão (por incrível que pareça, a segunda metade do século XX viu muito disso: Alemanha, Hungria, Tchecoslováquia, etc.).

Tio Sam (EUA) e o "urso" (URSS),
disputando o mundo.
Bom, os EUA, então, apoiaram os grupos anti-PC afegão/URSS. E ambos os lados usaram tanto o hard power (ações militares, armadas, apoio a grupos guerrilheiros, etc.) quanto o soft power (cinema, rádio, TV, propaganda) para justificarem suas ações. Afinal, todo mundo quer ser o mocinho, ora bolas! 

Aqui calha rememorar um exemplo de soft power norte-americano, o filme Rambo III (veja o trailer). Nele o persnagem vai até o Afeganistão e faz mais estragos que 1.000 mujahidin (os guerrilehiros afegãos), contra o exército vermelho (como era também chamado o exército da URSS). Aliás, muita gente passou a ter conhecmento dessa guerra no Afeganistão (a de 1979) por causa do filme; principalmente, quando ele denuncia um ato terrível que a URSS praticava no Afegaistão: fazia bombas em forma de brinquedos, para matar crianças guerrilheiras.

Pois bem, a URSS saiu do Afeganistão 10 anos depois com o "rabo entre as pernas" (foi o Vietnã deles) e tudo parecia bem - ou seja, ninguém nem sabendo da existência do Afeganistão outra vez, até a tomada de poder pelos Talibãs, em 1996. E esse governo passou a permitir que terroristas utilizassem seu território para planejar atos de terror e treinar os executores desses planos. 

O papel de abrigar terroristas era exercido por países como a Líbia e o Irã, nos anos 80,  pois o alvo desses malucos era prioritariamente Israel (mas fizeram muitos estragos em várias partes do mundo). Contudo, o Afeganistão passou a oferecer melhores condições de "trabalho", digamos assim. E foi ai que o Al-Qaeda cresceu de vez, culminando no ataque de 11 de setembro de 2001, contra os EUA.

Então, o pobre Afeganistão do filme Rambo agora era - e com razão - um celeiro de terroristas. E por conta de sua ligação intestina com o Al-Qaeda foi atacado, não só pelos EUA, mas também pela OTAN. Essas tropas estão lá até hoje e conseguiram avanços  que certamente abalaram as estruturas da Al-Qaeda. Só para ilutrar, em 02/05/2011 foi morto Bin Laden, o número 1 da organização e no dia 27/08/2011, morreu o número 2, sucessor do Bin.


Fim do regime Talibã no Afeganistão.
Pergunte às mulheres afegãs se elas acharam ruim a queda daquele regime?
Leia mais em TIME.
Enfim, os pactos internacionais e a política internacional vão pelo Direito Internacional, para dar um ar de legalidade nas suas ações, mas as relações entre países vão além disso. Passam pela moral da ligação internacional entre os povos, da circusntância que paira no mundo, da ideologia dos governos que se relacionam, da opinião pública interna e internacional, enfim, se baseiam em bases muito mais amplas que a simples lei (que às vezes é interpretada de uma maneira meio esquisita, mas passa ...).

Dai saber a origem da moral, que embasa a ética das ações dos povos que figuram entre os players internacionais, é importante para o estudo de política internacional. Muita vezes a interpretação desses ditames será a diferença entre apoiar ou condenar um ato, um governo ou um movimento. Assim como, poderá servir de desculpa para minimizar a ação ou omissão de outros.

Encouraçado São Paulo, da Marinha do Brasil. 
Um dos navios mais poderosos de seu tempo. 
De uma época em que o Brasil agia para ser grande.
Aliás, o Brasil vem tentando ser um Global Player já algum tempo. Mas erra em duas coisas, a meu ver. Uma, é de tentar ser SEMPRE o bom moço, o que concilia todo mundo (nunca foi muito longe e na era Lula, até deixou o país muito mal visto, nas questões do Irã e em Israel, por exemplo) e a outra, a de querer esperar pelo anúncio da ONU, OEA, etc., quando situações se mostram ainda indefinidas. 

Contudo, somente seguir sempre o que ditam as organizações internacionais dão a ele a cara de "seguidor do óbvio". Parafraseando Carlos Hilsdorf: "você nunca terá todas as informações necessárias para tomar uma decisão. Se tiver, trata-se de uma conclusão óbvia, não de uma decisão". Com efeito, com Forças Armadas sucateadas, restaria ao Brasil (até a recuperação de seu braço militar) ser um país reconhecido por tomar decisões antes da maioria, para não ficar com cara de  "seguidor do óbvio". Mas não é isso que vemos.

Quando a Política Externa brasileira for capaz de pronunciar frases como as citadas abaixo, talvez seja o dia em que estejamos mais perto de descer do muro e crescer no cenário internacional, de forma mais séria:


"Os Estados não têm amigos, têm interesses" - Henry Kissinger
"Diplomacia sem poder militar é jogo de retórica" - Henry Kissinger
"A fraqueza atrai a agressão" - Donald Rumsfeld


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